Centro de Ensino Médio 01 Riacho Fundo I
Disciplina Filosofia
Professora: Fernanda Cordova
Apostila 2º ano
Idade Moderna e Ilustração
1. O paradigma da modernidade
O século XVII representa a culminação de um processo em que se subverteu a imagem do mundo que o cerca. A emergência do mundo burguês e o desenvolvimento da física, que se exprime matematicamente, constituem aspectos de uma mesma realidade cultural em transformação. A atividade filosófica, a partir daí, reinicia outro trajeto: ela se desdobra como reflexão cujo pano de fundo é a existência dessa ciência.
A revolução científica quebra o modelo de inteligibilidade do aristotelismo, o que provoca, nos novos pensadores, o receio de se enganar novamente. A procura da maneira de evitar o erro faz surgir a principal indagação do pensamento moderno: a questão do método, que centraliza as atenções não apensas no conhecimento do ser (metafísica), mas sobretudo no problema do conhecimento (teoria do conhecimento ou epistemologia).
Podemos dizer que até então os filósofos se caracterizam pela atitude realista, no sentido de não colocarem em xeque a realidade do mundo. Na Idade Moderna é invertido o pólo de atenção, ao centralizar no sujeito a questão do conhecimento.
Segundo a tradição, o conhecimento decorre da idéia que o sujeito tem do objeto. Mas qual é o critério de certeza para saber se o pensamento concorda como o objeto? As soluções apresentadas dão origem a duas correntes filosóficas, o racionalismo e empirismo.
2. Racionalismo cartesiano
René Descartes (1596 – 1650), também conhecido pelo nome latino de Cartesius (daí seu pensamento ser conhecido como “cartesiano”), é considerado o “pai da filosofia moderna”. Nas obras Discurso do método e Meditações metafísicas trata do problema do conhecimento.
O filósofo tem como ponto de partida a busca de uma verdade primeira que não possa ser posta em dúvida; por isso, converte a dúvida em método. Começa duvidando de tudo, das afirmações do senso comum, dos argumentos da autoridade, do testemunho dos argumentos da autoridade, do testemunho dos sentidos, das informações da consciência, das verdades deduzidas pelo raciocínio, da realidade do mundo exterior e da realidade do seu próprio corpo.
· O cogito, Deus e o mundo
Descartes só interrompe a cadeia de dúvidas diante do seu próprio ser que duvida. Se duvido, penso; se penso, existo: “Cogito ergo sum”, Penso, logo existo”. Eis aí o fundamento para a construção de toda a sua filosofia. Mas este “eu” cartesiano é puro pensamento, uma res cogitans (um ser pensante), já que, no caminho da dúvida, a realidade do corpo (res extensa, coisa extensa, material) foi colocada em questão.
A partir dessa intuição primeira (a existência do ser que pensa), que é indubitável, Descartes distingue os diversos tipos de idéias, percebendo que algumas são duvidosas e confusas e outras são claras e distintas. Por intuição, o filósofo entende “não o testamento mutável dos sentidos ou o juízo falaz [enganoso] de uma imaginação que compõe Mac o seu objeto, mas a concepção de um espírito puro e atento, tão fácil e distinta, que nenhuma dúvida resta sobre o que compreendemos”.
As idéias claras e distintas são idéias gerais que não derivam do particular, mas já se encontram no espírito, como fundamentação para a apreensão de outras verdades. São as idéias inatas, verdadeiras, não sujeitas a erro, pois vêm da razão, independentes das idéias que “vêm de fora”, formadas pela ação dos sentidos, e das outras que nós formamos pela imaginação. Inatas porque são inerentes à nossa capacidade de pensar. Por exemplo, a primeira idéia inata, porque clara e distinta, é o cogito, pelo qual o ser humano se descobre como res cogitans, isto é, como ser pensante. São inatas também as idéias da infinitude e da perfeição de Deus e as idéias de extensão e movimento, constitutivas do mundo físico. Nesse sentido, o ser humano é compreendido como res cogitan (coisa pensante) e res extensa (coisa extensa).
Embora o conceito de idéias claras e distintas resolva alguns problemas com relação à verdade de parte do nosso conhecimento, não dá garantia alguma de que o objeto pensado corresponda a uma realidade fora do pensamento. Como sair do próprio pensamento e recuperar o mundo do qual tinha duvidado? Para resolver essa questão, Descartes lança mão da é famosa prova ontológica da existência de Deus. O pensamento deste objeto – Deus – é a idéia e um ser perfeito; se um ser é perfeito, deve ter a perfeição da existência, senão lhe faltaria algo para ser perfeito. Portanto, ele existe. Se Deus é garantia de que os objetos pensados por idéias claras e distintas são reais. Portanto, o mundo tem realidade. E, dentre as coisas do mundo, o meu próprio corpo existe.
· Conseqüências do cogito
Podemos perceber no percurso realizado por Descartes uma incontestável valorização da razão, do entendimento, do intelecto. Como conseqüência, estabelece-se o caráter originário do cogito como auto-evidência do sujeito pensante e princípio de todas as evidências. Acentua-se o caráter absoluto e universal da razão que, partindo do cogito, e só com suas próprias forças, descobre todas as verdades possíveis. Daí a importância de um método de pensamento como garantia de que as imagens mentais, ou representações da razão, correspondam aos objetos a que se referem e que são exteriores a essa mesma razão.
A partir do século XVII, busca-se o ideal matemático, isto é, uma ciência que seja uma mathesis universalis (matemática universal). Isso não significa aplicar a matemática no conhecimento do mundo, mas usar o tipo de conhecimento que lhe é peculiar inteiramente dominado pela inteligência e baseado na ordem e na medida, o que lhe permite estabelecer cadeias de razões.
Outra conseqüência do cogito é o dualismo psicofísico (ou dicotomia corpo-consciência), segundo o qual o ser humano é um ser duplo, composto de substância pensante e substância extensa. Descartes sente dificuldade para conciliar as duas substâncias, cujo antagonismo será objeto de debates durante os dois séculos subseqüentes. De fato, enquanto o corpo é uma realidade física e fisiológica – e, como tal, possui massa, extensão no espaço e movimento, bem como desenvolve atividades de alimentação, digestão, etc. – encontra-se sujeito às leis determinadas da natureza. Por outro lado, as principais atividades da mente, como recordar, raciocinar, conhecer e querer, não têm extensão no espaço nem localização: nesse sentido, não se submetem às leis físicas, antes são a ocasião da expressão da liberdade.
Estabelecem-se, então, dois domínios diferentes: o corpo, objeto de estudo da ciência, e a menção, como veremos, marcará as dificuldades do desenvolvimento das chamadas ciências humanas a partir do final do século XIX.
3. Empirismo inglês
A palavra empirismo vem do grego empeiria, que significa “experiência”. O empirismo, ao contrário do racionalismo, enfatiza o papel da experiência sensível no processo do conhecimento.
· Francis Bacon
Francis Bacon (1561 – 1626), seguindo a tradição empirista inglesa que remonta a Roger Bacon (séc. XIII), realça a significação histórica da ciência e do papel que ela poderia desempenhar na vida da humanidade. Seu lema “saber é poder” valoriza, bem no espírito da nova ciência, não o saber contemplativo e desinteressado, mas o saber instrumental, que possibilite a dominação da natureza. Começa a tomar força o ideal prometéico (1) da ciência.
O interesse de Bacon pelo método da ciência se revela na obra Novun Organon (Novo Órgão), em que “órgão” é entendido como instrumento do pensamento. Critica a lógica aristotélica, opondo ao ideal dedutivista a eficiência da indução como método de descoberta e começa seu trabalho pela denúncia dos preconceitos e noções falsas que dificultam a apreensão da realidade aos quais chama de ídolos (2).
Os ídolos da tribo “estão fundados na própria natureza humana, na própria tribo ou espécie humana. [...] Todas as percepções, tanto dos sentidos como da mente, guardam analogia com a natureza e não com o Universo”. Isso significa que muitos dos nossos enganos derivam da tendência ao antropomorfismo.
Os ídolos da caverna são os provenientes “dos homens enquanto indivíduos. Pois, cada um – além das aberrações próprias da natureza em geral – tem uma caverna ou uma cova que intercepta e corrompe a luz da natureza; seja devido à educação ou conversão com os outros.”
Os ídolos do foro são os que advêm, de certa forma, das relações decorrentes do comércio. “Com efeito, os homens se associam graças ao discurso, e as palavras são cunhadas pelo vulgo. E as palavras, impostas de maneira imprópria e inepta, bloqueiam espantosamente o intelecto. [...] E os homens são, assim, arrastados a inúmeras e inúteis controvérsias e fantasias.”
Os ídolos do teatro são os “ídolos que imigraram para o espírito dos homens por meio das diversas doutrinas filosóficas e também regras viciosas da demonstração. [...] Ademais, não pensamos apenas nos sistemas filosóficos, na sua universalidade, mas também nos numerosos princípios e axiomas das ciências que entraram em vigor, mercê da tradição, da credulidade e da negligência”.
Francis Bacon desenvolve um estudo pormenorizado da indução a partir da crítica ao caráter estéril do silogismo e insiste na necessidade da experiência e da investigação segundo métodos precisos. Suas falhas se devem a não ter construído um sistema completo, enquanto os exemplos de indução são menos exatos que o método indutivo-dedutivo de Galileu. Além disso, a física de Baco se restringe às qualidades corporais, sem recorrer à matemática, mérito que coube também, e, sobretudo, a Galileu.
· John Locke
Jonh Locke (1632 – 1704) tornou-se conhecido como teórico do liberalismo. O liberalismo político, mas também elaborou importante teoria do conhecimento na obra Ensaio sobre o entendimento humano, cuja reflexão tem por objetivo saber “qual é a essência, qual é a origem, qual o alcance do conhecimento humano”.
Ao investigar a origem das idéias, ao contrário dos filósofos racionalistas, que privilegiam as verdades de razão – típicas da lógica e da matemática - , Locke prefere o caminho “psicológico”. O professor García Morente explica: “A origem de uma idéia, como a idéia de esfera, pode ser considerada psicologicamente ou logicamente. Psicologicamente estudaremos as sensações, as percepções que puderam produzir naturalmente, biologicamente, em nós, a noção de esfera; por exemplo, ter visto objetos dessa forma, naturais ou artificiais. Mas outro sentido da palavra origem é considerar a esfera como originada pelo movimento de meia circunferência girando ao redor do diâmetro”.
Ao escolher o caminho da psicologia, Locke distingue duas fontes possíveis para nossas idéias: a sensação e a reflexão. A sensação é o resultado da modificação feita na mente por meio dos sentidos. A reflexão é a percepção que a alma tem daquilo que nela ocorre. Portanto, a reflexão se reduz apenas à experiência interna do resultado da experiência externa produzida pela sensação.
O que ocasiona a produção de uma idéia simples na mente é a “qualidade” do objeto. Há qualidades primárias, como a solidez, a extensão, a configuração, o movimento, o repouso e o número, e qualidades secundárias (cor, som, odor, sabor, etc.), que provocam no sujeito determinadas percepções sensíveis. Enquanto as primárias são objetivas, por existirem realmente nas coisas, as secundárias variam de sujeito par sujeito e, como tais, são relativas e subjetivas.
Por meio da análise, o sujeito ata e desata as idéias simples, produzindo as idéias complexas. Estas, já que são formadas pelo intelecto, não têm validade objetiva. São nomes de que nos servimos para denominar e ordenar as coisas. Daí o seu valor prático, e não cognitivo. Se estabelecermos uma comparação com o processo cartesiano, podemos dizer que, enquanto Descartes enfatiza o papel do sujeito no processo do conhecimento, Locke enfatiza o papel do objeto.
Locke critica a doutrina das idéias inatas de Descartes, afirmando que a alma é como uma tabula rasa (tábua sem inscrições), como uma cera em que não há qualquer impressão, e o conhecimento só começa após a experiência sensível. Se houvesse idéias inatas, as crianças já teriam; além disso, a idéia de Deus não se encontra em toda parte, pois há povos sem essa representação ou, pelo menos, sem a representação de Deus como ser perfeito.
· David Hume
David Hume (1711 – 1776), filósofo escocês, leva mais adiante o empirismo de Francis Bacon e Locke. Partindo do princípio de que só podemos observar os fenômenos e de que o mecanismo íntimo do real não é passível de experiência, afirma que as relações são exteriores aos seus termos, ou seja, se não podemos observá-las, não pertencem aos objetos. As relações são apenas modos pelos quais passamos de um objeto a outro, de um termo a outro, de uma idéia particular a outra, simples passagens externas que os permitem associar os termos a partir dos princípios de causalidade, semelhança e contigüidade.
Hume nega, portanto, a validade universal do princípio de causalidade e da noção de necessidade a ele associada. O que observamos é a sucessão de fatos ou a seqüência de eventos e não o nexo causal entre esses mesmos fatos ou eventos. É o hábito criado pela observação de casos semelhantes que nos faz ultrapassar o dado e afirmar mais do que a experiência poder alcançar. A partir desses casos, imaginamos que o fato atual se comportará de forma análoga. A única base para as idéias ditas gerais, portanto, é a crença, que, do ponto de vista do entendimento, faz uma extensão ilegítima dos conceitos.
4. Racionalismo ou empirismo?
Vimos que no século XVII, a partir dos problemas gnosiológicos, ou relativos ao conhecimento, surgem duas correntes opostas: o racionalismo e o empirismo. Exagerando, poderíamos dizer que o racionalismo é o sistema que consiste em limitar o ser humano ao âmbito da própria razão, e o empirismo é o que limita ao âmbito da experiência sensível. Isso não quer dizer que o racionalismo exclua a experiência sensível, mas que esta é apenas a ocasião do conhecimento e está sujeita a enganos. A verdadeira ciência se perfaz no espírito. Para o empirismo, ao contrário, a experiência é fundamental, e o trabalho posterior da razão está a ela subordinado.
Como conseqüência, os racionalistas confiam na capacidade humana de atingir verdades universais, eternas, enquanto os empiristas terminam por questionar o caráter absoluto da verdade, já que o conhecimento parte de uma realidade in fieri (isto é, em transformação constante), em que tudo é relativo ao espaço, ao tempo, ao humano.
No século XVIII, Kant tentará superar a dicotomia racinalismo-empirismo.
5. A Ilustração
O século XVIII é o período conhecido como Iluminismo, Século das Luzes, Ilustração ou Aufklärung (Esclarecimento, em alemão). Como as designações sugerem, trata-se do otimismo no poder das luzes da razão de reorganizar o mundo humano.
Já no Renascimento desenrola-se a luta contra o princípio da autoridade e se buscava o reconhecimento de que pelos seus próprios poderes os seres humanos seriam capazes de tecer a trama de seu caminho. O racionalismo e o empirismo do século XVII (Descartes, Locke e Hume) dão o substrato filosófico dessa reflexão. Descartes justifica o poder da razão de perceber o mundo por sentidos e a experiência na elaboração do conhecimento, Hume coloca em questão a validade universal do princípio de causalidade.
A filosofia do Iluminismo também sobre a influência da revolução científica levada a efeito por Galileu no século XVII. O método experimental recém-descoberto tem a técnica como aliada, fazendo surgir as novas ciências, as quais, por sua vezes, aperfeiçoam ainda mais a tecnologia. Com o seu poder aumentando, o ser humano não mais se contenta a contemplar a harmonia da natureza: quer conhecê-la para dominá-la. Por fim, a natureza passa a ser vista de forma dessacralizada, isto é, desvinculada da religião. Tornando-se livre de qualquer tutela, sabendo-se capaz de procurar soluções para seus problemas com base em princípios racionais, o ser humano estende o uso da razão a todos os domínios: político, econômico, moral e religioso.
A exaltação do poder humano decorre, segundo Desné, do fato de que “a segurança do filósofo é a segurança do burguês que deve à sua inteligência, ao espírito de iniciativa e de previdência, o lugar que tem na sociedade. [...] A emancipação do homem, na qual Kant vê o traço distintivo do Iluminismo, é a emancipação de uma classe, a burguesia, que atinge sua maioridade”.
Nesse momento dá-se o fortalecimento do sistema capitalista como modo de produção predominante, cuja expressão é a Revolução Industrial, marcada pelo aparecimento da máquina a vapor, em meados do século XVIII, e que introduz o processo de mecanização das indústrias.
De fato, o século XVIII é o século das revoluções burguesas: ainda no final do anterior, em 1688, a Revolução Gloriosa na Inglaterra destrona os Stuarts absolutistas e, em 1789, no continente europeu, os Bourbons são depostos com a Revolução Francesa. Também no Novo Mundo ocorrem movimentos de emancipação, como a Independência dos Estados Unidos (1776), e, no Brasil, a Conjuração Baiana (1789) e a Conjuração Baiana.
A influência do Iluminismo se estende por toda a Europa, mas principalmente n a Inglaterra, França e Alemanha.
Na Inglaterra, seus representantes fizeram furor em sua época, sobretudo por serem conhecidos como livres pensadores, no sentido de desenvolverem uma crítica à Igreja oficial e pregarem a tolerância religiosa. Nesse aspecto, são os iniciadores do deísmo, que daí em diante influenciará os demais pensadores iluministas, ainda que a partir de elaborações diferentes do que se entendia por religião natural, além de provocarem reações vigorosas no clero. Entre os deístas ingleses, destacam-se John Toland, discípulo de Locke, além de Antony Collins, Lord Boling-broke, entre outros.
Na França, seus expoentes são Montesquieu, Voltaire, Rousseau. O poder de penetração da Ilustração nesse país se deve, sobretudo, ao caráter vulgarizador da produção de seus filósofos, empenhados em “levar as luzes a todas as pessoas.
Importante nesse processo é a publicação da Enciclopédia, obra imensa cujo trabalho de edição e redação dos verbetes são confiados a diversos intelectuais como Voltaire, Helvetius, Montesquieu, Rousseau, Condillac, D´Allembert, Diderot.
Na Alemanha, o movimento é conhecido como Aufklärung (Esclarecimento). Vale acentuar a especificidade desse “país”, já que não podemos falar em autonomia nacional, porque a unificação alemã só ocorreu no século XIX. Naquele momento, a Alemanha não passa de um agregado de Estados que têm em comum a língua e algumas tradições. A economia feudal ainda predominante impede a ascensão da burguesia rica e esclarecida e mantém o povo na miséria. Além disso, a Alemanha se acha extenuada pela Guerra dos Trinta Anos. Só na segunda metade do século XVIII, começam a aparecer sinais da emancipação intelectual, sobretudo na produção literária como Lessing, Herder, Goethe, Schiller; e na musical, com os descendentes de Bach (Carl Philipp e Joahann C.) e Haendel, Haydn, Mozart, Schubert, Beethoven.
Na filosofia alemã, as expressões maiores são : Wolff, Lessing e Baumgarten. Mas foi Kant o filósofo por excelência desse período, ao criar uma obra sistemática cuja influencia marcará a filosofia posterior.
6. O criticismo kantiano
Immanuel Kant (1724 – 1804) nasceu na Alemanha. Interessado desde o início pela ciência newtoniana, já constituída plenamente no seu tempo, estava atento à confusão conceitual a respeito da natureza do nosso conhecimento. Questiona, na obra Crítica da razão pura, se é possível uma “razão pura” independente da experiência, por isso seu método é conhecido como criticismo. Ao desenvolvê-lo, Kant “desperta do sono dogmático” em que estavam mergulhados os filósofos anteriores, já que eles não questionam a existência da realidade nem duvidam que as idéias da razão correspondam à realidade.
Diante da pergunta “Qual é o verdadeiro valor dos nossos conhecimentos e o que é conhecimento?”, Kant coloca a razão em um tribunal para julgar o que pode ser conhecido legitimamente e que tipo de conhecimento não tem fundamento. Com isso pretende superar a dicotomia racionalismo-empirismo. Condena os empiristas (tudo que conhecemos vem dos sentidos) e, da mesma forma, não concorda com os racionalistas (tudo quanto pensamos vem de nós): o conhecimento deve constar de juízos universais, da mesma maneira que deriva da experiência sensível.
Para superar essa contradição, Kant explica que o conhecimento é constituído de matéria e forma. A matéria dos nossos conhecimentos são as próprias coisas, e a forma somos nós mesmos. Exemplificando: para conhecer as coisas, precisamos da experiência sensível; mas essa experiência não será nada se não for organizada por formas da nossa sensibilidade, que, por sua vez, são a priori do tempo e o espaço não existem como realidade externa, são antes formas que o sujeito põe nas coisas.
Outro exemplo: quando observamos a natureza a afirmamos que uma coisa “é isto”, ou “tal coisa é causa de outra”, ou “isto existe”, temos, de um lado, coisas que percebemos pelos sentidos, mas, de outro, algo lhes escapa, isto é, as categorias de substância, de causalidade, de existência. Essas três categorias (e outras mais) não vêm da experiência, mas são postas pelo próprio sujeito cognoscente. Portanto, segundo Kant “o nosso conhecimento experimental é composto do que recebemos por impressões e do que a nossa própria faculdade de conhecer de si mesma tira por ocasião de tais impressões.
Kant também conclui não ser possível conhecer as coisas tais como são em si, ou seja, o noumenon (a coisa – em si) é inacessível ao conhecimento. Apenas podemos conhecer os fenômenos, para que, etimologicamente, significa “o que parece”. Kant inova ao afirmar que a realidade não é um dado exterior, ao qual o intelecto deve se conformar, mas, o contrário, o mundo dos fenômenos só existe na medida em que “aparece” para nós. Portanto, de certa forma, participamos de sua construção.
Prosseguindo a análise da possibilidade do conhecimento, Kant se depara com dificuldades insolúveis ao questionar as realidades da metafísica, tais como a existência de Deus, a imortalidade da alma, a liberdade, a infinitude do universo.
Retomando nosso raciocínio, para Kant, todo o conhecimento é constituído pela forma a priori do espírito e pela matéria fornecida pela experiência sensível. Ora, os seres da metafísica não podem preencher essa segunda exigência: não temos experiência sensível de Deus, por exemplo. Decorre dessa constatação a impossibilidade do conhecimento metafísico, portanto, devemos nos abster de afirmar ou negar qualquer coisa a respeito dessas realidades. Trata-se de um agnosticismo (etimologicamente, a, “não”, e gnosis, “conhecimento”). Somos agnósticos quando consideramos a razão incapaz de afirmar ou negar a existência de Deus. O agnosticismo não se confunde com o ateísmo, pelo qual negamos taxativamente que Deus existe.
Entretanto, em outra obra, Crítica da Razão Prática, Kant tenta recuperar as realidades da metafísica que destruíra no processo anterior. Enquanto a razão pura se ocupa das idéias, a razão prática se volta para a ação moral, que só é possível porque os seres humanos – ao contrario da natureza, sujeita aos determinismos – podem agir mediante ato de vontade, por autodeterminação. Pela análise do mundo ético, Kant recoloca as questões da liberdade humana, da imortalidade da alma e da existência de Deus.
O pensamento Kantiano é conhecido como Idealismo transcendental. A expressão transcendental em Kant significa aquilo que é anterior a toda experiência: “Chamo transcendental todo conhecimento que trata, não tanto dos objetos, como, de modo geral, de nossos conceitos a priori dos objetos”. Mesmo fazendo a crítica do racionalismo e do empirismo, o procedimento Kantiano redunda de idealismo: ainda que reconheça a experiência como fornecedora da matéria do conhecimento, é o nosso espírito, graças às estruturas a priori, que constrói a ordem do universo.
Bibliografia
ARANHA, Maria Lúcia de Arruda. Filosofando: Introdução à Filosofia. Ed. Moderna – São Paulo, 2003.
sexta-feira, 7 de agosto de 2009
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Kade do 1° Ano
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